Cupidos Digitais, Flechas Algorítmicas: Como fazer o perfil perfeito para apps de namoro.

Publicado em 10/04/2024 às 13h12

Por Henriane Morelli – Abril 29, 2024

A digitalização das interações humanas têm impulsionado a proliferação de aplicativos de relacionamento, que buscam conectar usuários com potenciais parceiros por meio de algoritmos e dados pessoais. No entanto, surge um problema: os “cupidos digitais” utilizam algoritmos para unir usuários com base em seus perfis e preferências. Esses algoritmos são construções humanas limitadas, suscetíveis a erros e tendências discriminatórias, representando uma visão idealizada do que as pessoas desejam ser, afinal, todos estão em uma espécie de vitrine. Não é raro encontrar perfis em aplicativos exibindo textos como “minhas fotos estão sem filtros e são recentes!” ou ainda pedidos para ignorar o perfil em caso de fotos editadas: “se suas fotos tiverem filtros, dê um X”.

Apesar de os algoritmos serem eficientes em aproximar pessoas com base em interesses e outras métricas, ainda não são capazes de evitar completamente problemas como encontros frustrados.

Quais seriam, então, esses algoritmos? Será que consideram a atividade no aplicativo, proximidade por localização via GPS, valores, hobbies, estilo de vida e objetivos de relacionamento? O que funciona na matemática do amor? 

Será que afinidades e objetivos em comum facilitam os primeiros contatos? Às vezes me questiono se existe maturidade emocional e autoconhecimento suficientes para preencher o perfil de maneira assertiva. Será que represento quem eu sou ou quem eu gostaria de ser? Os cientistas de dados, engenheiros de produto e equipes de marketing dos aplicativos compreendem isso? 

Será que aprender com padrões e preferências passadas e fazer previsões sobre quais usuários têm maior probabilidade de se conectarem bem são suficientes para uma fórmula de sucesso?

Gostaria muito de saber como é formada a equipe que desenvolve os aplicativos de relacionamento. Quantas programadoras mulheres, negras, cadeirantes fazem parte desta equipe de programadores? Quantos psicólogos e antropólogos contribuem para a construção desse algoritmo?

Cresci ouvindo a frase: “os opostos se atraem” — o perfil caseiro se encanta pelo entusiasta das ruas, o nerd encontra afinidade com o geek. Contudo, em tempos de namoro matemático e com o clima social, político e cultural cada vez mais polarizado em países ao redor do mundo, é possível que estejamos ainda menos inclinados a nos apaixonar por alguém que compartilha exatamente os mesmos pontos de vista.


E não estou criticando os aplicativos, sou uma fiel defensora dessa nova tecnologia. O que estou questionando é: será que estamos utilizando-a corretamente? Será que há necessidade de mais diversidade nas equipes de desenvolvimento? Minhas amigas conseguem vários “matches” e marcam diversos encontros, enquanto eu não. Será que há algo de errado comigo? Ou será que, se considerarmos que todos têm alguém em algum lugar, esse alguém simplesmente não está aparecendo para o meu perfil? O problema sou eu ou os engenheiros de desenvolvimento?

Atenção programadores, tenho uma lista de sugestões para aumentar as chances de termos matches mais interessantes nos aplicativos como Inner Circle, Bumble, Tinder, e muitos outros. Que tal ouvirem mais os seus usuários?

E para todos os meus amigos que sempre me perguntam como podem melhorar seus perfis, aqui vai a dica:

  1. Quanto mais autêntico você for, maiores serão suas chances de encontrar pessoas que se apaixonem pelo que você realmente é. Capriche nas fotos, mas seja verdadeiro e autêntico. Mostre quem você é no seu dia a dia e não quem você foi há 20 anos, ou como você ficou naquele superfiltro.
  2. Deixe claro o que você quer e o que não combina com você. Por exemplo, se você está em busca de um relacionamento sério, se não tem interesse em ter mais filhos, se é apaixonado por gatos e procura alguém que compartilhe seu amor por viagens. No entanto, é fundamental expressar esses pontos sem ser rude ou grosseiro. Lembre-se de que você está interagindo em um ambiente social, onde todos compartilham o mesmo objetivo. Evite frases como: “Se gosta de cigarros, vaza”, “Se mora a 5 km de distância, desapareça”.
  3. Mentir (sobre aparência, personalidade e carreira) é desastroso. No entanto, não é necessário expor todos os seus fracassos logo de início. Em um aplicativo, você está construindo uma marca pessoal para marcar um primeiro encontro. Ninguém precisa saber, neste momento, há quanto tempo você está desempregado ou o quanto você guarda mágoas da sua ex-mulher.
  4. Ajuste suas configurações. Filtros como a modificação do raio de descoberta de usuários, a faixa etária pretendida, altura, profissão e sexo de interesse podem refinar ou expandir sua busca, aumentando as chances de encontrar pessoas mais compatíveis.
  5. Use o algoritmo a seu favor. Deixe que ele aprenda com você. Quanto maior for sua interação, maiores serão as chances de ele te conhecer melhor.
  6. Você não precisa ter fotos com sua mão na boca do leão, mas é importante tirar a mão que cobre o seu rosto. Fotos fazendo poses sérias podem atrair atenção, mas é o sorriso que conquista a maioria dos usuários. Preste atenção à iluminação e valorize a sua imagem.  Além disso, o cenário das fotos é importante – ter apenas fotos tiradas no elevador, carro ou banheiro, não é muito atraente, certo? No mínimo é estranho. Aposte na variedade. Evite tirar fotos em grupos, já que nem todos os usuários desejam aparecer em fotos de outras pessoas no aplicativo. O mesmo vale para seus filhos – evite expô-los desnecessariamente.
  7. Atenção! O aplicativo é apenas uma ferramenta tecnológica. Divirta-se e marque encontros para tornar isso algo positivo, sem impor regras e filtros em excesso. Apesar de já ter tido conversas agradáveis, algumas pessoas desaparecem ao descobrirem distâncias, perdendo ótimas oportunidades. A distância não é necessariamente um obstáculo – meu pai conheceu minha mãe em uma viagem para o interior de São Paulo, tornando-os um casal incrível. Pare de racionalizar demais; a tecnologia é apenas uma ponte que precisa ser atravessada para descobrir algo especial do outro lado.